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JBO - Jornal Brasileiro de Oftalmologia 23 Nº 200 - Janeiro / Fevereiro / Março - 2023
cil, dada a diversidade de sintomas, a interferên- do olhar conjugado, lesões internucleares e as dife-
cia de fatores cognitivos, psicológicos e culturais rentes paralisias infranucleares. Por fim, realiza-se o
que interferem na comunicação entre o paciente exame fundoscópico, avaliando em especial o dis-
e o médico, bem como a escassez de tempo do co do nervo óptico e a camada de fibras nervosas
examinador para a obtenção dos dados. Exige, peripapilares, além de excluir lesões retinianas.
portanto, experiência e conhecimento, sendo ne- Após o exame detalhado, o médico deve ser capaz
cessário compreender exatamente as queixas, es- de estabelecer uma hipótese diagnóstica e orientar
tabelecer a cronologia dos sintomas e sua evolução a obtenção de exames complementares, particu-
ao longo do tempo. Além disso, é preciso verificar larmente os de neuroimagem.
antecedentes pessoais e familiares, particularmen-
te no que diz respeito a doenças oftalmológicas 2. Diagnosticar corretamente as afecções
e neurológicas. Quando obtida de forma correta, da via óptica
uma história completa e detalhada, ao lado de um
exame minucioso e assertivo, permitem, na maioria As afecções da via óptica representam as condi-
dos casos, uma orientação diagnóstica segura e a ções mais comuns em neuro-oftalmologia e envol-
definição da estratégia do exame clínico que se se- vem doenças do nervo óptico, do quiasma óptico
gue à sua realização. e da via óptica retroquiasmática, incluindo o trato
óptico, o corpo geniculado lateral, as radiações óp-
O exame neuro-oftalmológico propriamente dito ticas e o córtex visual.
constitui-se num exame oftalmológico, com ênfase
maior em alguns dos seus itens, como a avaliação As neuropatias ópticas inflamatórias, incluindo a
da função visual e das reações pupilares, a verifica- papilite, a neurorretinite, a neurite retrobulbar e
ção da motilidade ocular, a fundoscopia e o exa- a perineurite óptica são as principais doenças do
me do campo visual. O profissional deve, além de nervo óptico. É fundamental que o especialista co-
definir corretamente a acuidade visual corrigida, nheça as características clínicas, que incluem o aco-
avaliar a visão de cores e o campo visual. Os diver- metimento preferencial de adultos jovens, a perda
sos padrões de defeitos campimétricos devem ser visual de evolução rápida (em dias), acompanhada
interpretados corretamente, uma vez que muitos de dor ocular ou periocular, a presença de defeito
deles possuem importância fundamental nos diag- pupilar aferente e de defeito de campo visual, prin-
nósticos neuro-oftalmológicos. A alteração campi- cipalmente os escotomas centrais ou cecocentrais.
métrica deve ser investigada quanto à lateralidade Deve conhecer também os achados à imagem por
e à localização no campo visual (central, periférica, ressonância magnética e à tomografia de coerência
altitudinal, hemianópica). óptica nessas condições. Além disso, é importante
investigar a causa, verificando a presença, em es-
É essencial também a avaliação correta dos refle- pecial, de esclerose múltipla e do espectro da neu-
xos pupilares, observando a presença ou não de romielite óptica.
anisocoria e, principalmente, de defeito pupilar
aferente. Na motilidade ocular, é preciso verificar O médico deve saber diferenciar a neurite óptica
os movimentos oculares sacádicos, de seguimen- de outras doenças da via óptica, em especial a neu-
to, o reflexo vestíbulo-ocular e movimentos de ropatia óptica isquêmica anterior (NOIA) que aco-
vergência. Avaliar também as duções, as versões mete indivíduos idosos, com perda súbita da visão
e a presença de desvios. Quando presentes, estes
desvios devem ser medidos com prisma e cover e defeito de campo preferentemente altitudinal.
nas diferentes posições do olhar. A semiologia ade- Tem causa multifatorial (NOIA-não arterítica) mas
quada é essencial para avaliar eventuais paralisias pode também ser causada por arterite temporal.