Page 24 - JBO-200 (JAN-FEV-MAR)
P. 24
JBO - Jornal Brasileiro de Oftalmologia 24 Nº 200 - Janeiro / Fevereiro / Março - 2023
RELATÓRIO ANUAL
A confusão de neurite óptica com NOIA pode de vergência devem ser avaliados e podem estar
levar a tratamentos errôneos com graves con- acometidos em diferentes doenças neurológicas.
sequências desastrosas. Diferenciar também a É fundamental reconhecer as paralisias do olhar
neurite e a NOIA do papiledema e das neuro- conjugado vertical, causado por lesões no teto do
patias compressivas, tóxicas, carenciais, traumá- mesencéfalo, e paralisias do olhar conjugado hori-
ticas e heredodegenerativas. zontal causado por lesões pontinas. Além disso, a
oftalmoplegia internuclear caracterizada por déficit
É importante, ainda, diagnosticar corretamente o de abdução do olho no lado da lesão e nistagmo
papiledema, sinal importante de hipertensão intra- em abdução no olho contralateral é importante,
craniana, com sérias implicações etiológicas. Iden- podendo ser causada por esclerose múltipla, e
tificar também as neuropatias compressivas, tóxi- também por lesões isquêmicas e tumorais. Reco-
cas, carenciais e heredodegenerativas, em especial nhecer as paralisias dos nervos oculomotor, trocle-
a doença de Leber e a atrofia óptica dominante. É ar e abducente, tanto nas formas completas como
preciso também diferenciar as doenças do nervo parciais e suas principais causas. É necessário não
óptico de afecções oculares que causam edema só avaliar as duções e versões, mas também identi-
de papila, tais como a hipotonia, as uveítes e as ficar e quantificar o desvio nas diferentes posições
oclusões venosas da retina (papiloflebite). Muitos do olhar, com o teste do prisma e cover para que se
avanços existem na identificação das anomalias tenha a definição exata do nervo acometido.
congênitas do nervo óptico, que podem levar a
confusões diagnósticas, particularmente nos ede- Outra causa importante de alteração na motilidade
mas e dos pseudo-edemas de papila, como ocorre ocular e de diplopia é a miastenia gravis, que pode
nas drusas do nervo óptico. confundir com paralisias oculomotoras. Caracteri-
za-se por desvio ocular variável que não apresenta
As doenças do quiasma óptico se caracterizam por padrão de desvio compatível com uma lesão neu-
perda do campo visual bitemporal causada por rogênica e usualmente acompanhada de ptose.
processos expansivos da região selar e suprase- Nesses casos, evidenciar a fadiga palpebral, após
lar, como os adenomas hipofisários, o craniofarin-
gioma, além de outros tumores. Deve-se também teste de esforço ao olhar para cima prolongado,
diagnosticar as lesões retroquiasmáticas, todas elas pode ser muito útil na suspeita e encaminhamento
se apresentando com defeito campimétrico ho- dos exames complementares como eletroneuro-
mônimo, mas com características distintas quando miografia e pesquisa de anticorpos anti-receptores
acometem o trato óptico, o corpo geniculado late- da acetilcolina.
ral, as radiações ópticas e os lobos occipitais.
Por fim, reconhecer as alterações motoras cau-
Ainda no capítulo das alterações visuais, é im- sadas por miopatias, como as miopatias mito-
portante saber identificar as causas de perda condriais ou as miopatias restritivas causadas por
transitória da visão, as anomalias de papila e lesões orbitárias como a orbitopatia de Graves e
distinguir doenças da via óptica do glaucoma e fraturas orbitárias. Todas essas condições podem
de doenças retinianas.
ser causa de diplopia e podem levar à confusão
3. Identificar corretamente distúrbios nos movi- com as paralisias oculares. O neuro-oftalmologista
mentos oculares e na motilidade ocular deve também estar atento e reconhecer descom-
pensações de estrabismo ou estrabismo adquiri-
Os movimentos oculares sacádicos, de seguimento do do adulto que também entram no diagnóstico
lento, o reflexo vestíbulo-ocular e os movimentos diferencial das diplopias.