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JBO - Jornal Brasileiro de Oftalmologia 25 Nº 200 - Janeiro / Fevereiro / Março - 2023
4. Fazer o diagnóstico diferencial das pto- 6. Diagnosticar corretamente casos de perda
ses palpebrais visual funcional
Ptose palpebral é outra condição importante de ser Outro capítulo importante em neuro-oftalmologia
diagnosticada e pode ser causada por alterações é o diagnóstico de perda visual funcional, seja ela
locais na pálpebra, alterações no músculo levanta- voluntária ou de causa psicogênica. Tais pacientes,
dor da palpebral, doença da junção neuromuscular muitas vezes, são submetidos a extensas investi-
ou alterações inervacionais. Identificar a ptose que gações desnecessárias, quando se confunde com
acompanha a paralisia oculomotora, a ptose dis- lesões orgânicas da via óptica. Tais confusões são
creta associada à miose e pseudo-enoftalmo, que particularmente importantes quando o paciente de
ocorre na síndrome de Horner e diferenciá-las da fato apresenta alguma afecção ocular e possui per-
ptose variável e acompanhada de sinais de fadiga da funcional sobreposta àquele diagnóstico. O mé-
palpebral que ocorre na miastenia gravis. Ainda dico deve, portanto, dominar técnicas que permi-
importante a semiologia adequada no sentido de tam diferenciar a perda funcional da orgânica, que
identificar ptoses por alterações locais na pálpebra incluem inúmeras técnicas de avaliação da acui-
ou por desinserção do músculo levantador da pál- dade visual (por exemplo, medindo em diferentes
pebra, como ocorre na ptose senil. É preciso tam- distâncias), a avaliação das respostas pupilares e a
bém diagnosticar condições que levam à pseudo- avaliação do campo visual, em especial ao períme-
-ptose palpebral, como os pacientes com retração tro manual de Goldmann.
palpebral (discreta) no olho contralateral, a enoftal-
mia, a dermatocálase, os estrabismos verticais e as As várias condições acima listadas ilustram a diver-
distopias oculares. sidade dos temas envolvidos em neuro-oftalmolo-
gia e as dificuldades na sua condução. Apesar dis-
5. Estabelecer o diagnóstico diferencial so, o oftalmologista com bom treinamento e com
das anisocorias
dedicação pode e deve participar ativamente do
diagnóstico e condução de tais pacientes, seja iso-
O quadro sindrômico da anisocoria, definido como ladamente seja em cooperação com neurologistas
a diferença de tamanho da pupila entre os dois e outros especialistas, de tal forma a minorar o so-
olhos, exige uma diferenciação cuidadosa, já que frimento dos pacientes e fornecer o melhor trata-
pode ser decorrente de várias condições como al- mento e suporte possível para aqueles acometidos
terações locais da íris, síndrome de Horner, parali- por tais afecções.
sias oculomotoras, lesões do gânglio ciliar na órbita
e ação de drogas sobre a íris. No entanto, pode
também ocorrer a chamada anisocoria fisiológi-
ca, condição benigna e relativamente frequente.
Assim, a diferenciação cuidadosa, avaliando-se os
diâmetros pupilares em diferentes níveis de ilumi-
nação, as reações pupilares à luz e para perto, bem
como a resposta pupilar à colírios, como a pilocar-
pina diluída é de fundamental importância. Aniso-
Dr. Mário Luiz Ribeiro Monteiro
coria pode ser sinal de afecções relativamente be- Professor Associado, Livre Docente de Oftalmologia
nignas, mas pode também ter graves implicações, da Faculdade de Medicina da USP. Coordenador do
Programa de Pós-graduação em Oftalmologia da
particularmente na síndrome de Horner e na parali- FMUSP e chefe do serviço de Neuro-oftalmologia do
sia oculomotora de instalação abrupta. Hospital das Clínicas da FMUSP