Page 6 - JBO-200 (JAN-FEV-MAR)
P. 6

JBO - Jornal Brasileiro de Oftalmologia               6                Nº 200 - Janeiro / Fevereiro / Março - 2023



            ENTREVISTA









                                Entrevista: Dr. Luca Gualdi

                                Durante o Congresso Internacional da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, realizado
                                em outubro de 2022, Dr. Miguel Padilha, ex-presidente da SBO, teve a oportunidade de
                                entrevistar o Dr. Luca Gualdi, renomado médico italiano e um dos participantes do Sim-
                                pósio Luso-Ítalo-Brasileiro de Catarata. O tema olho seco mereceu várias considerações
                                do especialista, que é Diretor da Unidade de Catarata e Cirurgia Refrativa do D.O.M.A
                                (Diagnostica Oftalmologica e Chirurgia Ambulatoriale) e membro da Sociedade Italiana
                                de Oftalmologia. Confira!








      1. Na sua experiência, com que frequência você vê        Vários estudos demonstram a influência da hiperos-
      casos de dry eye em sua clínica?                         molaridade no erro biométrico 1, 2, 3 .


      O número de pacientes com olho seco está aumen-          Hoje em dia, mais pacientes ficam sempre mais exi-
      tando a cada ano. Com certeza, as maiores causas,        gentes, por isso é fundamental reabilitar a superfície
      além do incremento de stress, são o maior uso de         ocular antes de fazer uma biometria. Além de tudo,
      dispositivos eletrônicos com luz azul, como compu-       se antes da cirurgia já temos uma condição de olho
      tadores, tablets e smartphones. A alimentação e o        seco, depois só pode piorar, deixando o paciente in-
      não correto estilo de vida também podem influenciar
      muito a qualidade da superfície ocular e das glându-     satisfeito e o cirurgião frustrado. Isso vai acontecer
      las de Meibômio. Por isto, a frequência de casos de      até se o paciente conseguir enxergar bem, mas tendo
      dry eye sintomático que vejo no dia a dia do con-        sintomas que vão incomodar muito a qualidade de
      sultório é maior que 50%. Porém, na outra metade         vida dele, como fotofobia, sensação permanente de
      de pacientes, temos pelo menos 20% com olho seco         corpo estranho e baixa de qualidade de visão intermi-
                                                                                        4
      com ceratite punctata e/ou disfunção das glândulas       tente, mesmo com 20/20 .  .
      de Meibômio (MGD) assintomáticos. Então podemos
      considerar entre sintomáticos e assintomáticos algo      Figura 1
      em torno de 70%.


      2. Como você lida com pacientes portadores de
      olho seco numa forma discreta e candidatos a cál-
      culo de LIO e facectomia?

      Um dos maiores riscos de erro biométrico é a leitu-
      ra errada na ceratometria. Na mesma medida pode
      acontecer que uma alteração do filme lacrimal pode
      sub ou sobrestimar o número de K1 e K2 e o eixo do
      astigmatismo  (fig.1).  Esse  fator  pode  ser  crucial  so-  Disco de Plácido e leitura ceratométrica alterada e indu-
      bretudo em casos de seleção de uma LIO Premium.          zida pelo olho seco
   1   2   3   4   5   6   7   8   9   10   11