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JBO - Jornal Brasileiro de Oftalmologia              14                Nº 200 - Janeiro / Fevereiro / Março - 2023
          INTELIGÊNCIA

          ARTIFICIAL:


          o que o oftalmologista

          precisa saber?







                   Daniel A. Ferraz MD, PhD2                   aumentar a capacidade diagnóstica do profissional, e
                   Institute of Ophthalmology, University College Lon-  não substituí-la, e para isso devemos conhecer seus
                   don - Londres, Inglaterra                   conceitos-chave.
                   Instituto D’Or de Pesquisa e
                   Ensino - São Paulo, Brasil
                                                               Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa,
                   Victor CF Bellanda, MD1                     IA é “ramo da ciência que estuda o desenvolvimen-
                   Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringolo-  to de sistemas computacionais com base no modelo
                                                                                        3
                   gia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Faculdade de   da inteligência humana”.   A  partir  dessa  definição,
                   Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São
                   Paulo, Brasil - Ribeirão Preto, Brasil      podemos apreender que qualquer forma de proces-
                                                               samento automático de dados constitui, de fato, um
      Machine learning, deep learning, neural networks; a      tipo de IA. Ora, em teoria, quem já utilizou programas
      maioria dos oftalmologistas já se deparou com esses      de análise estatística para realizar um estudo cientí-
      termos em algum lugar, seja em uma reunião de con-       fico utilizou também uma forma de IA. Esse concei-
      ferência, um artigo científico ou até mesmo em um        to “guarda-chuva”, no entanto, apesar de englobar
      bate-papo informal com colegas. Mas o que eles real-     também o exemplo acima, costuma ser utilizado atu-
      mente significam? Até que ponto devemos conhecê-         almente para se referir a formas mais “profundas” de
      -los para nos mantermos atualizados com as frontei-      aprendizagem,  sobretudo  as  denominadas  machine
      ras da inovação? Será que podem impactar a prática       learning e deep learning. Estes termos, traduzidos
      clínica diária?                                          como “aprendizagem de máquina” e “aprendizagem
                                                               profunda”, respectivamente, nada mais são do que
      Essas questões tornam-se cada vez mais relevantes à      maneiras de se referir a sistemas de IA capazes de
      medida que novos algoritmos de Inteligência Artifi-      formar e reconhecer padrões dentre os dados a eles
      cial (IA) são aprovados em ensaios clínicos e lançados   fornecidos, ou seja, “aprenderem”, sem que alguém
      no mercado. Em 2018, o FDA autorizou a comerciali-       os ensine (programe) diretamente. Este processo de
      zação do IDx-DR, o primeiro sistema capaz de detec-      aprendizagem pode ser guiado por um feedback do
      tar,  sem  participação  humana,  retinopatia  diabética   programador (“aprendizagem supervisionada”), que
      moderada a grave em fotografias de fundo de olho         classifica as associações de saída como corretas ou
      de pacientes diabéticos e decidir se eles precisam ser   incorretas, refinando o algoritmo, ou de forma total-
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      encaminhados a um especialista.  No 28º encontro         mente automática (“aprendizagem não supervisiona-
      da ARVO (The Association for Research in Vision and      da”) realizada diretamente pelo sistema, baseando-
      Ophthalmology), em 2019, a multinacional de tecno-       -se num mecanismo de reconhecimento de padrões.    4
      logia  IBM,  em  parceria  com  a  New  York  University,
      divulgou seu algoritmo capaz de detectar glaucoma        Nos dias atuais, lidamos com uma quantidade de
      com uma precisão de 94% tão somente através de           dados disparadamente maior do que a capacidade
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      um exame de tomografia de coerência óptica (OCT).        de interpretação de uma única pessoa. Torna-se, por-
      Informações como estas tendem a surpreender ou           tanto, necessário encontrar uma forma de trabalhar
      até assustar o médico oftalmologista que está ainda      essa informação (também chamada de “big data”)
      iniciando  seu  contato  com  a  área.  Porém,  é  funda-  e encontrar as correlações que o processamento
      mental compreender que essas tecnologias visam           humano seria incapaz de estabelecer. Dessa forma,
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