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    Janeiro/Fevereiro/Março/Abril/Maio/Junho - 2020

    No Brasil, mulheres se



    destacam nas pesquisas sobre


    a pandemia do coronavírus




                 Eleonora Monteiro             em maio, está a infectologista carioca Sue Ann Costa
                                               Clemens, (diretora do Instituto para a Saúde Global da
       O ano de 2020 certamente vai fi car na História como   Universidade de Siena-Itália), convidada a contatar a
    aquele em que a humanidade viveu uma pandemia de   Unifesp para montar o principal centro de estudo.
    dimensões alarmantes -a do coronavírus,  só comparada   Muito antes do início de um acordo para a produção
    recentemente com a da gripe espanhola de 1917. No   da vacina Oxford no Brasil, a socióloga Nísia Trindade
    início do ano, ninguém pensava que a humanidade   Lima, primeira mulher a presidir a Fiocruz em 120 anos,
    seria atingida por um fl agelo que nos remete aos piores   já coordenava ações que fi caram sob a responsabilidade
    períodos da História, como o da peste na Idade Média,   de instituição, como a produção de milhões de testes
    e o JBO se preparava para fazer a sua tradicional matéria   diagnósticos, a capacitação de laboratórios públicos do
    pelo Dia Internacional da Mulher (8 de março).   país e de países vizinhos e a preparação do seu Instituto
       Os acontecimentos forçaram uma mudança da pauta,   de Infectologia para atender pacientes com a doença.
    focando principalmente no papel das mulheres como   Os três centros de estudo da vacina no Brasil: em São
    cientistas, pesquisadoras, à frente dos estudos sobre o   Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, têm à frente dos trabalhos
    coronavírus e o o SARS-COV-2. Não  são só mulheres,   cientistas mulheres, assim como o braço brasileiro do
    é claro, que participam das pesquisas, mas a presença   laboratório farmacêutico AstraZeneca, que fez parceria
    feminina cresceu signifi cativamente nos últimos anos,   com a Fiocruz para transferir a tecnologia do produto.
    motivos de comemoração numa área até há pouco   Diretora médica da AstraZeneca, Maria Augusta
    predominantemente masculina, razão pela qual o JBO   Bernardini, mãe de dois fi lhos, de 3 e 7 anos, coordena
    celebra essa mudança de paradigma.         uma equipe de cerca de 25 pessoas que trabalham em
       Desde 2009 o número de mulheres que cursam   diversas frentes. Lidando diariamente com outras mu-
    Medicina no país é maior do que o de homens. E as   lheres à frente do processo, ela defende maior valorização
    mulheres já são maioria entre os profi ssionais com menos   feminina. Para ela, desigualdades históricas são combati-
    de 29 anos de idade.,                      das não só com oportunidades, mas com exemplos. No
       Segundo a Organização dos Estados Ibero-america-  seu caso, Maria Augusta ressalta que ao fazer o processo
    nos (OEI), o Brasil é o país com maior percentagem de   seletivo para a AstraZeneca e ser chamada havia decidido
    artigos científi cos assinados por mulheres na América   que não trocaria de emprego na ocasião porque estava
    Latina e na comunidade ibero-americana. Entre 2014 e   tentando engravidar. “Cheguei a falar isso para o RH da
    2017, o Brasil publicou cerca de 53,3 mil artigos, dos   empresa e eles me disseram que isso de forma alguma
    quais 72% são assinados por pesquisadoras mulher. Atrás   seria um impeditivo”.
    do Brasil aparecem Argentina, Guatemala e Portugal   Membro da Academia Nacional de Medicina e da
    com participação em 67%, 66% e 64% dos artigos   Academia Brasileira de Ciências, autora de mais de 300
    publicados, respectivamente. No extremo oposto estão   estudos, chefe do Laboratório de Investigação Pulmonar
    Chile, El Salvador e Nicarágua, com mulheres partici-  da UFRJ, a médica Patrícia Rocco lidera um grupo que
    pando em menos de 48% dos artigos publicados. Além   investiga o uso de derivados de células-tronco contra
    desses países, a OEI analisou a produção científi ca do   o novo coronavírus em pacientes em estágio avançado
    México, Espanha, Uruguai, Bolívia, Colômbia, Costa   da doença.
    Rica, Cuba, República Dominicana, Equador, Hondu-  Natalia Pasternak, microbiologista, presidente do
    ras,  Panamá, Paraguai, Peru e Venezuela   Instituto Questão de Ciência e pesquisadora do ICB-
       O interesse das mulheres pela Medicina e pela   -USP, Margareth Dalcomo, cientista e pneumologista
    Ciência vem crescendo a cada ano e acredita-se que a   da escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, entre
    pandemia irá acelerar esse processo também nas áreas   tantas outras, destacam-se na divulgação da importância             Fiocruz,  fundada
    afi ns. No Brasil, brasileiras já se destacam à frente da   do conhecimento científi co para combater a pandemia             por Oswaldo Cruz,
    busca da vacina contra o coronavírus. Por trás da parce-  Todas são unânimes: a participação brasileira faci-              que liderou a vacina
    ria que trouxe ao Brasil os testes da vacina de Oxford,   litará nosso acesso à vacina, benefi ciando a população.
                                                                                                                               obrigatória contra a
                                                                           Fotos de divulgação                                 varíola no início do
                                                                                                                               século XX, hoje faz a
           A tradicional
          Universidade                                                                                                         prospecção de todas
          de Oxford, na                                                                                                        as  vacinas existentes
         Inglaterra,lidera                                                                                                     que estão sendo
        um dos estudos                                                                                                         testadas contra o
        da vacina contra                                                                                                       coronavírus
         o COVID-19. A
     infectologista carioca
         Sue Ann Costa
      Clemens montou o
       primeiro centro de
      estudo na Unifesp,
       atendendo convite
      de Andrew Pollard,
     investigador chefe da
             instituição





                                                                  No Laboratório de
                                                                  Investigação Pulmonar
                                                                  da UFRJ, na Ilha do
                                                                  Fundão, a médica
                                                                  Patrícia Rocco lidera um
                                                                  grupo que trabalha para
                                                                  desenvolver terapia com
                                                                  células-tronco contra o
                                                                  novo coronavírus
                                                                                         Unifesp, parceira da Universidade de Oxford na busca de uma vacina, foi
                                                                                         autorizada pela Anvisa a continuar os testes depois de uma pausa devido a
                                                                                         problemas apresentados por uma voluntária
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